domingo, 16 de agosto de 2015

A experiência é somente sua

Eu estava prestes a receber um diploma e comecei a olhar para trás e pensar em tudo o que eu fiz ou deixei de fazer. Será que tudo foi porque eu realmente quis? Ou estava indo na maré e levando sempre na mesma porque as coisas têm que ser assim ou é assim que todo mundo faz? Posso dizer que nunca "tive tempo de tirar um tempo " para pensar no que eu realmente tinha vontade de fazer. Eram tantas expectativas sociais para cumprir - notas altas no boletim, passar no vestibular, conseguir emprego, ter carro,dinheiro - que eu perdi a noção das minhas expectativas. E ainda empregos que eu havia conseguido até aquele momento não eram aquela coisa toda, eu estava pegando experiência. 



A faculdade passou e eu estava no último semestre estudando o que eu gosto. Porém estava tudo muito morno, eu sou flautista com formação em banda e orquestra e estava trabalhando com musicalização infantil e sala de aula, o que definitivamente não era o que eu queria. Estava faltando algo maior do que eu pensava fazer, que superasse as minhas expectativas. Eu estava me sentindo meio assim:

Andorinha lá fora está cantando:

— "Passei o dia à toa, à toa!"

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa . . .

(Manuel Bandeira).



Apresentando: AIESEC, Bruna; Bruna, AIESEC


Em uma ensolarada e calorosa sexta-feira eu estava na biblioteca da faculdade e ouvi uma mulher falando ao celular, marcando uma entrevista para a AIESEC. Como  estava com o notebook, joguei no google. Passei o final de semana lendo blogs de gente que foi e a página da AIESEC para se inscrever e marcar uma reunião. Como quem não quer nada, preenchi o formulário e enviei. Segunda-feira me ligaram para marcar um horário. 
Eu sempre quis morar em outro país, mas não queria ir para os EUA, Canadá, Inglaterra, todas as agências de intercâmbio sempre têm esses mesmo destinos. A esses lugares quero ir em outro momento, não agora. E descobri algo que poderia me levar a destinos digamos, "mais incomuns": a AIESEC. 
Tive duas reuniões, e aí veio a pergunta: vou ou não vou? O salário que eu ganhava era uma merreca e muito instável, dependia muito de os meus alunos não desistirem da aula, senão eu recebia cada vez menos. Eu trabalhava em três lugares, mas quando me formasse já não teria mais o emprego que me pagava 80% do que eu ganhava, pois era um estágio. Resumindo: eu não tinha nada a perder indo viajar logo depois da formatura. 
Eu estava com muita vontade de ir para a Rússia ou Indonésia, mas tinha menos de R$ 1.500 no banco e não juntaria muito mais do que R$2.000 até me formar ( eu estava no último semestre) . Pois é, e agora? Esperar até juntar no mínimo R$5.000, que é o preço aproximado somente da passagem, ou ir logo depois da formatura para um lugar que coubesse no meu bolso? Fiquei com essa dúvida por algumas semanas. Havia duas possibilidades: esperar até juntar o dinheiro, e então eu viajaria em dezembro ou depois. Ou ir a outro país na América do Sul, que até aquele momento era pra mim um lugar meio sem graça por ser perto, queria ir bem mais longe.

Mas...se eu esperasse, com certeza iria me fixar em um emprego e ficar adiando cada vez mais. A  pessoa que fez a primeira entrevista comigo disse que se eu esperasse ter dinheiro para ir à Ásia acabaria desistindo, como acontece com muita gente. "Escolha pela experiência, não pelo lugar". Então assinei o contato, paguei a taxa e agora já era! Ahhah. Já estava dentro, só faltava conseguir uma vaga. 
Eu passei muitos anos pesquisando destinos, lendo histórias, imaginando como seria quando fosse a minha vez. Mas essa vez nunca chegava, sempre tinha algo me impedindo, faculdade emprego, dinheiro, etc. Mas por um momento o meu cérebro estava em outro lugar e acabei fazendo a inscrição sem pensar. Às vezes e gente precisa de uma atitude sem noção para ter o pontapé inicial para algo incrível.

Destino improvável, experiência inacreditável:

Entrando no sistema da AIESEC e pesquisando os países possíveis, vi que tinha cidades das quais eu nunca havia ouvido falar antes. Como eu não iria onde eu realmente queria mesmo, não escolhi o lugar, fui pela experiência. O projeto escolhido foi por afinidade com o que eu teria que trabalhar.  Eu estava cheia de dedos com a América do Sul, principalmente a Argentina. Mas, por ironia do destino o projeto pelo qual eu mais me identifiquei acabou sendo no lugar onde eu menos esperava ir, em uma cidade da qual nunca havia ouvido falar. 
Uma semana depois de me cadastrar no sistema estava com a vaga: projeto CooparteKids, em Córdoba. Depois de dar match na vaga do projeto, comprar as passagens e o seguro, parecia que era mentira. Era algo tipo: eu vou me mudar. Caramba! Eu vou me mudar! kkk, não acredito que fiz isso! Agora foi, é só esperar a data da viagem. 

Muita gente pergunta se eu larguei o emprego para fazer intercâmbio. Eu tinha a bolsa do Pibid e a bolsa da banda da faculdade. Ambos eu perderia quando me formasse. Como me formei em agosto, viajei em setembro e outubro. Novembro e um parte de dezembro eu fiz uns bicos substituindo professores numa escola. Fim do ano abriu um seletivo para trabalhar no ano seguinte, fiz essa prova e passei.


Só depois de viajar eu me dei conta de que precisava mais me livrar de tudo do que eu pensava. Morar em outra cidade,viver outro ritmo de vida diferente, trabalhar com pessoas diferentes, lidar com algo desconhecido, enfim, começar tudo outra vez. Mesmo que fosse por só 2 meses. 

A experiência é somente sua, e de mais ninguém. Só você sabe o que foi bom, ruim ou inexplicável. Muitas coisas não terão explicação. Os motivos pelos quais eu larguei as coisas no Brasil e fui parar em outro país por algumas semanas podem não estar claros nem para mim mesma. O que interessa é que eu criei coragem e fui. 

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