Quando cheguei em Córdoba descobri que uma pessoa que iria trabalhar comigo tinha a mesma ideia doida: ir para Ushuaia, a cidade mais austral do mundo. Planejando as coisas chegamos à conclusão de que seria absurdamente caro para o nosso orçamento e não teríamos tempo suficiente. Então decidimos ir somente a El Calafate e Puerto Madryn, que junto com Ushuaia formam o "triângulo patagônico". Acontece que o nosso triângulo ficou sem uma das pontas hahah.
Quando você procura "Patagônia" no google encontra um monte de fotos lindas, aí fiquei achando que iria ver aquilo nos dois dias sentadas no busão. #soquenao. A vegetação é praticamente tudo estepe, planícies com plantas rasteiras, quase sem árvores e parece que está tudo sempre morto. Praticamente dois dias vendo isso, parecia que eu estava no desenho do "Coragem, o cão covarde", tudo meio depressivo. Pra completar a Andesmar tem uma lista bizzarra de filmes pra passar na viagem, um pior do que o outro! Tinha um filme argentino chamado "Coração de Leão", a coisa mais monótona e sem graça que eu já assisti na vida.
Planejamos quase toda a viagem com o guia Get South, que tem em vários hostels por lá. Há informações sobre pontos turísticos, restaurantes, hostels e excursões da Argentina, Chile e Uruguay. E o melhor: descontos em hostels e excursões.
Mesmo toda a nossa organização não nos salvou de alguns imprevistos, que dependiam de fatores externos dos quais não tínhamos controle. Dia 17 de setembro partimos de Córdoba em direção a El Calafate. Não diretamente porque ligamos para o terminal e nos disseram que havia ônibus direto na sexta, mas mudaram os horários fazia um mês e agora era dia sim dia não, e as sortudas queriam viajar no dia não. Então compramos passagem para Rio Gallegos, e lá compraríamos outra para El Calafate, que fica na província de Santa Cruz. Para chegar lá saímos da província de Córdoba e passamos por La Pampa, Rio Negro, Chubut e finalmente em Santa Cruz.Não, não fomos de avião. Repare como estamos no "fim do mundo". |
Caleta Olívia, uma das várias paradas ao longo dos dois dias
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Saímos 13:30 na sexta e chegamos em Rio Gallegos no domingo de manhã. Felizmente o ônibus atrasou duas horas, a previsão era chegar 05:40, chegamos quase 07:30. Se tivéssemos chegado a tempo teríamos que esperar quase duas horas a mais daquele terminal sem tomadas e energia para pegar o outro ônibus. Compramos a passagem de Rio Gallegos para El Calafate, saímos 09:15 e chegamos cerca de 14:00. Meia hora antes de chegar no Calafate pude ver montanhas e gelo, a "Patagônia da internet".
Menos de uma hora depois de chegar tínhamos uma excursão para o Lago Argentino. Essas excursões podem ser agendadas antes de chegar, com o hostel mesmo.
Ouvir muita gente dizer que o sul da Argentina é muito caro, mas eu não entedia o motivo. É tudo absurdamente longe e em lugares nada acessíveis, então as empresas de viagem assaltam os gringos e cobram horrores porque é impossível fazer qualquer coisa se você não tiver um carro e às vezes nem com carro, tem que pagar a tour mesmo.
Vista to Hostel Nakel Yenu. |
Lago Argentino e Cerro Frias:
Às 15:00 embarcamos com mais duas pessoas num 4x4, eu, Francisca e uma mulher de Brasília que conhecemos nesse passeio. Pode-se ver o lago argentino de praticamente qualquer lugar da cidade. Mas...trata-se do maior lago patagônico e tem 1.466 km², não dá para ver tudo caminhando. Depois de algum tempo chacoalhando no 4x4 chegamos ao lago. Tivemos sorte de a previsão do tempo errar, pois havia sol e a água tinha um tom de azul muito claro.
Paramos em vários lugares do lago, para molhar os pezinhos, tirar umas selfies e sentir a brisa gelada da Patagônia. Depois de mais um tempo vendo lebres, cauquenes e outros animais que eu sabia da existência mas nunca vi na minha frente, chegamos a uma estância. Enquanto faziam tortas fritas ficamos voando na tirolesa. A Patagônia é um lugar muito fotogênico, com ou sem sol todas as fotos ficam incríveis. A cordilheira dos andes está sempre ao fundo de quase todos os lugares da cidade, com a cobertura de neve nos cumes, isso que chegamos no primeiro dia da primavera ❤.
Durante a viagem toda fiquei me perguntando o que era esse tal de "Cerro Frias", porque vimos um monte de coisas, mas eu não conseguia identificar o bendito ahahah. Fuçando no google, descobri que é um dos morros que subimos, onde pode-se ter uma vista panorâmica.
Glaciar Perito Moreno:
Às 08:00 embarcamos numa viagem de quase duas horas numa van, com algumas paradas no caminho para tirar fotos do lago e numa estância antes de chegar ao glaciar.
Além dos ARS$ 400 da excursão para o Glaciar tem que pagar a entrada do parque, ARS$150 para quem vive na América do Sul. Aí entra um homem na van e começa a pegar o dinheiro como se tivesse te assaltando ( é tudo um assalto mesmo), mas não pede passaporte para conferir se você realmente nasceu em algum país do Mercosul.
O Perito Moreno é o glaciar mais famoso, devido ao fato de ser de fácil acesso (não parece, mas esse era o mais fácil). Para ver alguns glaciares é preciso entrar no meio do mato, caminhar muito no gelo, escalar a cordilheira dos Andes e até acampar!
Vir de ônibus sai mais barato, quase a metade do preço, mas eles não ficam o dia todo. É chegar, subir as escadas, ver o gelo e ir embora. Na verdade foi exatamente isso que fizemos, rsrsr, só que por mais tempo. Depois de um longo caminho subindo escadas chega-se ao primeiro balcão, onde dá para ver bem a parte cima do glaciar, uma torta de sorvete gigante.
O vento era tão gelado que comecei a ficar com dor de ouvido, mesmo com a touca. O lago que aparece nas fotos ainda é o lago argentino, que é enorme. Tinha uns projetos de iceberg boiando no lago, que nas fotos não parecem muito bem, porque é tudo branco e azul, nem eu apareço muito bem kkkk. Aconselho a levar óculos de sol, pois o reflexo do sol no gelo dói um um pouco os olhos. Reparem que eu estou com o olho pequeno na maioria das fotos
O tempo todo acontecem pequenos rompimentos no glaciar. É engraçado que a cada estouro o povo fica procurando onde é, pra tentar filmar ou tirar uma foto.
Às 14:00 quem quisesse ou ainda tinha plata, poderia ir a um passeio de barco, mais ARS$180. Me disseram que não valia tanto a pena, então nem fomos. Ficamos em um restaurante com preços patagônicos esperando dar 15:00 para ir até outra parte do lago buscar o pessoal.
O próximo e último dia reservamos para conhecer a cidade, que apesar de ter praticamente 25% dos habitantes da minha cidade, consegue ter o centro maior ahaha.
Depois do almoço fomos dar uma olhada nas lojas e fomos surpreendidas pelos "horários patagônicos". O povo aqui é chegado numa sesta, tudo fecha à tarde. No outro dia de manhã foi a partida para Rio Gallegos, para depois irmos a Puerto Madryn, onde chegamos no outro dia, cerca de 15:00.
Partindo para Puerto Madryn e a neve no caminho. |
Puerto Madryn
Após mais 15 horas no ônibus chegamos em Puerto Madryn, deixamos as muambas no hostel e fomos dar uma volta pela cidade primeiro.
Puerto Madryn não é tão bonita quanto El Calafate, mas tem aquele ar de cidade portuária, cheiro de peixe,gaivotas, barulho das ondas e é bem tranquila.
No pier Piedrabuena pode-se ver baleias o dia todo, bem de perto, e alguns lobos marinhos às vezes. Achei que elas iriam demorar para aparecer, mas em questão se segundos já tinha uma balançando a cauda.
Elas quase não aparecem na foto, mas estão ali rsrs. |
Estava previsto ir à estância San Lorenzo, onde há uma colônia enorme de pinguins que fica no norte da Península Valdes. Para isso precisa pagar a excursão, a entrada da península e da estância, somando quase ARS$800! Resultado: fomos ver os leões marinhos, e Francisca foi também a outra reserva ver os pinguins.
Há várias "puntas" em Puerto Madryn, a reserva dos lobos marinhos fica na Punta Loma. É um lugar bem inacessível, não tem ônibus pra lá e novamente tem que pagar alguma excursão se quiser ir. Fomos de táxi, o meio mais barato que conseguimos, pois não tem diferença ir sozinho ou com uma empresa, todo mundo vai acabar chegando no mesmo lugar e vendo a mesma coisa: lobos marinhos com cheiro de marisco.
Havia um mirador com um binóculo, e estava escrito que para usar precisava colocar uma moeda de um peso numa espécie de gaveta. Coloquei e deu para ver os lobos marinhos e as gaivotas bem de perto. Mas acontece que não é necessário colocar a moeda para usar o binóculo, funciona de qualquer jeito, eu fui a única certinha que leu o aviso e fez o que estava escrito. Então as demais pessoas usaram o binóculo com a MINHA moeda. Não é pelo dinheiro, mas me senti uma otária vendo que só eu fiz aquilo ahaahh.
Nos hostel ganhamos de um casal de bolivianos dois ingressos para ir ao museu oceanográfico, eles compraram e não tiveram tempo de usá-los. O museu era pequeno, mas muito bonitinho e sem aquele cheiro gostoso de formol.
Essa lula gigante é o que pensam ser o Kraken, uma espécie de mostro que ameaçava os navios no folclore nórdico. |
No outro dia fiquei zanzando pela cidade enquanto a Francisca ia ver os pinguins, ela tem até uma blusa escrito " vim cá só para ver os pinguins" ahahha.
No mesmo dia de noite, ela partiu para Buenos Aires para depois voltar a Portugal, e eu a Córdoba pois tenho mais três semanas pela frente ainda... A melhor coisa depois de voltar a Córdoba foi sentir o calor de tarde e à noite aquele ventinho de verão, parecendo praia...
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Despesas com a viagem (preços em 2014):
Passagem ida e volta de Córdoba para Rio Gallegos, pela empresa Andesmar (já inclui a parada em Puerto Madryn e volta para Córdoba):
ARS 2817.
Obs: ganhamos 20% de desconto com a carteira de estudante...mesmo eu não sendo mais estudante. Na minha carteira está escrito até 09/15. Valeu Univali!
Passagem de Rio Gallegos para El Calafate:
ARS 220.
Passagem de El Calafate para Rio Gallegos:
ARS 230.
Tour para Cerro Frías e Lago Argentino:
ARS 390
Tour para Parque Nacional los glaciares:
ARS 400
Entrada do Parque Nacional los glaciares:
ARS 150 ( para nascidos nos países do Mercosul).
Nakel Yenu hostel, em El Calafate ( 3 noites)
ARS 270.
Trapalanda hostel, em Puerto Madryn ( 2 noites).
ARS 180.
Punta Loma ( lobos marinhos)
Táxi: ARS 150.
Entrada da reserva ambiental: ARS 65.
Gastamos alguma coisa com taxi para ir do terminal ao hostel quando chegamos, mas não me lembro quanto.
Comida: sabendo que a Patagônia era muito cara, fiz uma compra grande em um mercado muito barato, o Buenos Dias, no terminal de Córdoba. Sendo assim, cozinhei no hostel e não comi nenhuma vez fora.
No hostel Trapalanda ( Puerto Madryn) conseguimos 10% na hospedagem com o Get South. No Nakel Yenu (El Calafate) ganhava uma...cerveja, mas eu não estava muito a fim de beber às nove da manhã, e a minha mala já estava socada de coisas.
Total: ARS 5022 ( cerca de R$1600).
Obs: considerando que eu levei dólares e não trocava o dinheiro na casa de câmbio ( precisava de autorização), e sim com o pessoal da AIESEC, eu conseguia 13 pesos por dólar, ao contrário dos 8 pesos que eu conseguiria na casa de câmbio. Isso me fez "ganhar" cerca de 600 reais. Ou seja, o custo real da minha viagem foi R$1000.
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