Eu viajei pela primeira vez quando quando fiz um intercâmbio da AIESEC na Argentina. Lá conheci várias pessoas que viajavam de forma independente, pagando barato e conhecendo destinos diferentes dos pacotes das agências. Depois do intercâmbio viajei várias vezes, sempre planejando tudo por conta própria e pesquisando na internet. A premissa era sempre fazer por conta e economizar dinheiro. Eu lia vários blogs e assistia a vários vídeos de como se proteger contra perrengues na viagem, fazia tudo certinho o que tinha pra fazer: levava cópia de todos os documentos, deixava sempre um pouco de dinheiro na mala, só andava com a doleira, documentos originais ficavam no hostel, ficava sempre no hostel depois que escurecia, etc. Depois de alguns anos viajando sozinha eu comecei a achar que isso tudo era paranoia, afinal nunca tinha acontecido nada comigo.
Em dezembro de 2020 eu fui pela segunda vez ao Rio de Janeiro, iria ficar na região dos Lagos. Cheguei à tarde e no outro dia ao meio dia pegaria um ônibus para Cabo Frio. Mas eu tinha a manhã inteira ociosa e resolvi pegar um uber para a escadaria Selarón e tirar umas fotos. Você sempre vai ler nos blogs "chegue cedo para tirar fotos sem ninguém atrás e evitar aglomerações". Eu cheguei às 08:30. Quando saí do Uber e vi o local completamente vazio tive uma sensação estranha. Não havia turistas, somente alguns moradores subiam e desciam a escada. Pedi para um deles tirar uma foto, ele tirou e disse para eu ir embora e não ficar sozinha ali. Tem uma pintura do mapa do Brasil na descida da escadaria, eu pedi para duas mulheres que passavam tirar uma foto, elas disseram "melhor segurar suas coisas aqui, ou ir embora". Eu fui embora e estava no centro perto do teatro municipal. Eu tinha muito tempo ainda e o cara tirou umas fotos bem tortas, então resolvi voltar! Quando cheguei tinha alguns turistas, uns 10. Tirei outras fotos e resolvi descer por outra rua, não sei porque!
Dois caras vieram por trás, um puxou a minha mochila e o outro me deu uma facada no ombro. Eu não queria acreditar do que tinha acabado de acontecer, estava no meio da rua sem os meus pertences e uma ferida aberta no ombro. Eu pedia ajuda para as pessoas na rua e todos olhavam como se não fosse nada. Inclusive um grupo de uns cinco ou seis adolescentes sentados bem onde aconteceu o assalto conversavam entre si como se nada tivesse acontecido na frente deles. Se eu tivesse levado um tiro teria morrido na rua mesmo.
Tenham muito cuidado com os arredores da escadaria Selarón e os arcos da Lapa, não andem por lá como eu fiz. Em 2019 um turista ucraniano foi esfaqueado a poucos metros de onde eu fui, às 14:00. Confiram aqui a reportagem. Só de pensar que em 2015 eu passei várias vezes neste lugar e não me aconteceu nada me dá arrepios. Sei que vários cartões postais do Rio estão nesta região, mas siga o meu conselho: pague por um tour para conhecer essas regiões. Se quiser economizar faça um free walking tour, você da uma "gorjeta" para o guia no final. Ouça os moradores, se alguém te mandar sair de onde está, fuja na hora! Leve sempre algum dinheiro para pagar um táxi, nem sempre da para chamar uber.
Um dia antes eu presenciei um roubo depois de sair da Confeitaria Colombo, pouco antes do Real Gabinete Português de leitura. Estava esperando o Uber e um cara passou correndo, eram cerca de 18:00. Logo depois dele passou um casal gritando "pega ladrão". O cara havia roubado um carrinho de feira de um comerciante. Havia várias pessoas na calçada e ninguém ficou apavorado, parece supernormal...
Voltando ao meu assalto, atravessei a rua e vi uma viatura da polícia. Nesta altura eu já estava sentada no chão, minha pressão baixou, não conseguia mais ficar em pé, minha mão esquerda encharcada de sangue, tampando ferimento no ombro direito que não parava de sangrar. Uma senhora que passava me deu uma toalha para colocar no machucado, quando os policiais faziam ligações para tentar achar os dois assaltantes. Fui para o hospital com a viatura e levei dois pontos no ombro. Fui atendida na hora, os policiais esperaram eu levar os pontos e depois me levaram para a delegacia para fazer o boletim de ocorrência. Enquanto eu estava deitada na maca levando as várias anestesias antes dos pontos olhava para o teto e pensava se aquilo tudo não era um pesadelo.
Os bandidos levaram minha mochila com meu celular, R$150,00, identidade e dois cartões do banco. Eu tinha comprado o celular na semana anterior, tive um prejuízo de R$1600,00. A primeira coisa que fiz foi procurar um caixa do Bradesco e cancelar o cartão. Mas cancelando o cartão a Biometria ficava bloqueada e eu fiquei impedida de sacar, eu deveria ter sacado antes de bloquear. E isso só é liberado na minha agência, ou seja: na cidade onde moro. A própria funcionária do Bradesco pediu um uber pra mim e pagou, para eu poder voltar ao hotel.
Chegando no hotel contei o que havia acontecido, os dois recepcionistas também tiveram celulares roubados. Inclusive um turista teve o celular roubado dentro do hotel, entraram lá e roubaram de dia! Eu estava morrendo de fome e sem dinheiro, minha diária estava paga e já havia dado o horário de check-out. Eu mal conseguia mexer o braço por causa dos pontos e estava impossibilitada de sacar dinheiro. Com aqueles pontos eu não poderia pegar sol e nem aproveitar as praias. No mesmo dia comprei uma passagem de volta, com o cartão de uma amiga pois não sabia o número do meu de cor.
Eu precisava de dinheiro para comer, pagar mais um diária para ir embora no outro dia e pagar um Uber para o aeroporto. Eu precisava transferir dinheiro para que alguém sacasse para mim. O Bradesco pede uma validação no celular para usar o internet banking. Sorte que eu tenho conta em outro banco que não pede isso, então transferi R$200,00 para o recepcionista, que sacou para mim da conta dele. O hotel tinha um computador, que usei para comprar a passagem, transferir e passar o tempo. No outro dia às 12:40 embarque de volta para casa. Consegui embarcar com a cópia da identidade e o boletim de ocorrência.
Meu cérebro só foi se tocar do que aconteceu alguns dias depois, eu ficava pensando o tempo todo que escapei por pouco: eu poderia ter levado um tiro ou uma facada no pescoço. No dia de natal minha família estaria me enterrando ao invés de trocar presentes e comer na ceia. É estranho mas muitas vezes eu olhava para a minha mão e mexia meus dedos, me certificando de que eu estava ali e estava viva. Chegar em casa e ver meu carro, os instrumentos e andar de bicicleta me deixava aliviada e indignada ao mesmo tempo, de como pus a minha vida em risco por causa de uma besteira.
E assim terminou minha viagem, que durou um dia e me deu um prejuízo de mais de R$3.000,00 com passagem, celular e cancelamento de hospedagem. Mas vou continuar viajando sozinha, tomando todas as precauções que sempre tive antes. Agora vamos a um resumo do que é mais importante para ficar seguro durante a viagem, e contornar algum imprevisto que acontecer:
1. Tenha fotos de todos os documentos e cartões:
Deixe estas fotos armazenadas em uma nuvem, pasta secreta com senha ou envie para o seu e-mail. Não aconselho a fazer cópia em papel ou deixar a foto na galeria do celular, pois em caso de roubo alguém terá acesso fácil a isso. Se eu tivesse foto do cartão não teria precisado pedir um cartão emprestado para comprar a passagem de volta.
2. Nunca leve pertences caros e dinheiro na mala despachada:
Essa informação as próprias cias aéreas sempre dão. Eu não despacho mais mala faz anos, sempre levo tudo comigo. Mas se você vai despachar, leve dinheiro e todos os seus pertences de valor na mochila ou bolsa de mão com você. Na mala despachada leve somente roupas, calçados e outras coisas sem valor alto. Sempre é bom levar uma muda de roupa junto com você na bagagem e mão. Ninguém nunca sabe quando podem extraviar a sua mala e levar dias para encontrar, aí você pelo menos tem uma roupa limpa para trocar quando chegar ao seu destino.
3. Cuidado no aeroporto!
Não pense que aeroportos são locais totalmente seguros, há quadrilhas especializadas em roubar malas que se passam por turistas. Fique sempre com sua bagagem à vista, qualquer bobeira no banheiro, fila do check-in ou lanchonete eles roubam sua mala sem você ver.
4. Diferencie sua malas das outras:
A maioria das pessoas leva malas pretas de rodinha, elas são fáceis de confundir e passam despercebidas. Acho mais fácil alguém pegar sua mala por engano do que ela ser extraviada depois de despachada. Se você tem o costume de despachar as malas prefira uma colorida, estampada, personalize a sua, coloque uma capa, etc.
5. Pesquise sobre o seu destino:
Mesmo que você viaje com pacote e um guia lhe acompanhando o tempo todo, pesquise para conhecer o lugar onde está indo, principalmente o bairro onde vai ser hospedar. Muitos mochileiros buscam o lugar mais barato, fora do comum para se hospedar e acabam caindo em furadas: lugares, perigosos, escuros e longe das atrações. Eu já fiz isso em Paraty e Angra dos Reis, hoje sou bem mais seletiva na hora de reservar. Sempre pesquise sobre os melhores bairros para se hospedar e fuja dos mal avaliados, mesmo que saia mais caro. Acredite se os moradores disserem que o lugar é perigoso ou disser para você ir embora de onde está. Lugares muito turísticos têm sempre os seus golpes, pesquise para não cair em golpes bobos e perder dinheiro, como golpe no guia turístico em Olinda.
6. Evite os horários vazios:
Todo mundo sabe que andar sozinho à noite não é aconselhável, mas sair cedo demais quando não tem ninguém na rua pode ser até pior. Eu fui esfaqueada e roubada às 09:00. Eu sempre acordo cedo sozinha e uns anos atrás tinha a mania de dar uma volta na cidade pra matar tempo antes do café da manhã, tipo às 07:00! E por causa de que? Pra tirar fotos sem ninguém atrás! Fique no hotel, sua segurança é mais importante.
7. Fazer tour farofa nem sempre é ruim:
No meio mochileiro os tours em grupo (principalmente city tour) são bem famigerados. O legal é pegar transporte público e fazer tudo a pé. Pra quem pagar R$150,00 para o guia te levar em um lugar que você pode ir sozinho? Segurança principalmente. Eu não faço mais tour em cidade nenhuma sozinha a pé. Procure pelos "free walking tours", uma versão mais cool e barata dos famigerados city tours. Não tem um preço fixo, no final você dá uma gorjeta ao guia como pagamento. Se o lugar tem fama de perigoso ( tipo o centro do Rio de Janeiro ) ou você está meio inseguro contrate um tour em grupo.
8. Só leve documentos e cartões para o passeio se precisar:
Muitos lugares pedem documento para entrada na atração, mas pergunte sempre se eles aceitam a cópia. Não ande com documentos ( principalmente passaporte!) na rua sem necessidade. Ative a biometria no seu banco para sacar sem o cartão. Se tiver dois cartões de crédito, deixe um deles no hotel. Se você não vai alugar carro na viagem não tem motivo para levar a CNH, uma dor de cabeça a menos se perder ou for roubado.
9. Use uma doleira:
Se eu tivesse com a doleira, os ladrões teriam levado somente a minha mochila rasgada e a garrafa tupperware. Esse é um costume que eu tinha e acabei perdendo. Leve um pouco de dinheiro na bolsa ou mochila, e o restante na doleira, se for roubado não ficará sem dinheiro para voltar para o hotel. Para tirar o dinheiro eu sempre ia ao banheiro ou alguma loja que achava segura e tirava o que precisava. Coloque cartões e documentos na doleira também. Jamais ande com celular e carteira no bolso.
10. Tenha um cartão "travel money" para viagens internacionais
Eu sei que o IOF desses cartões aumentou muito ao longo dos anos e ainda tem a as taxas de saque, mas nunca tenha todo o seu dinheiro da viagem em espécie. Se você for roubado ou perder fica sem nada. Com esse cartão alguém pode depositar mais dinheiro para você. Ou você mesmo transferir dinheiro pelo aplicativo do seu banco para o cartão e sacar fora do país. O bom é levar um pouco em espécie e o resto no cartão e ir sacando conforme precisar, eu sempre saco uma vez por semana.
11. Não confie em estranhos:
Cuidado com pessoas que se oferecem para ajudar, principalmente a carregar malas. Essa é uma das formas de golpe em vários lugares, eles te cobram um valor exorbitante e se não pagar é assalto na certa! Se vai a algum lugar por conta própria pesquise antes o trajeto se vai a pé ou transporte público. Assim você evita ter que pedir informações a estranhos que podem querer te prejudicar.
12. Sempre tenha o celular carregado:
Invista em uma bateria portátil e leve sempre o carregador. Eu já passei por alguns perrengues por ficar sem bateria. Imagina precisar chamar um Uber ou ligar para alguém e fica incomunicável.
13. Evite experiências arriscadas:
Eu conheci uma mulher que no primeiro dia no Peru foi parar no hospital por intoxicação alimentar. "Eu comi tudo o que tinha de diferente no primeiro dia" disse ela. Se for em festas não exagere na bebida, não aceite drinks de estranhos, tenha sempre um app de Uber/taxi para voltar. Se for adepto dos esportes radicais verifique sempre a reputação da empresa em sites como o tripadvisor e leia os comentários. Evite entrar em trilhas e fazer sozinho atividades em locais isolados e com risco de se perder.
14. Pesquise sobre as leis do país onde vai viajar:
Algumas coisas banais no Brasil podem gerar multas e até prisão em alguns países. Em Singapura mascar chicletes, comer e beber no metrô e alimentar os pombos pode gerar multar de mais de R$2.000! Consumo de drogas pode levar à pena de morte em países como Indonésia e Singapura.
15. Fique atento aos documentos:
Sempre pesquise sobre os documentos necessários para o país de destino. Muitos países tem exigências como vacina contra a febre amarela, passaporte com validade de no mínimo 6 meses, comprovação de passagem de saída do país, visto antecipado, etc.
16. Faça um seguro viagem:
Nunca saia do país sem um seguro viagem. Uma intoxicação alimentar ou levar dois pontos podem podem ter custos exorbitantes no exterior. Em 2014 um brasileiro foi numa rave na Suíça e morreu afogado em um lago. O seguro dele não cobria os custos de trazer o corpo ao Brasil e a família passou por apuros. Ninguém viaja pensando que vai ficar internado ou morrer, mas é sempre melhor prevenir. Eu sempre viajo com o seguro viagem da Assistcard, mas felizmente nunca precisei usar.
17. Compre um chip local:
Algumas economias são burras e uma delas é não querer gastar com chip local. Eu sempre salvava o roteiro no google maps e ia acompanhando a bolinha, achava desperdício de dinheiro comprar um chip só para a viagem, mesmo que eu tivesse dinheiro para isso. Mas em San Andrés wifi nenhuma funcionava, nem no hostel. Eu fiquei incomunicável por dois dias, então fui obrigada a comprar um chip colombiano da Movistar e colocar crédito. Você pode também sair do Brasil com um chip internacional já funcionando, como o easysim4you.
18. Não fale da sua vida para todo mundo:
Cuidado para não se empolgar e contar o seu roteiro, onde está hospedado, quantos dias vai ficar, etc. para quem mal acabou de conhecer. Nunca sabemos como a pessoa vai usar essas informações...Você também não precisa ser legal com todo mundo, se alguém estiver lhe incomodando corte a conversa, mude de rua, entre em algum lugar, etc. Se você é mulher, não renha receio de mentir e dizer que tem namorado, é casada, está esperando um amigo que foi ao banheiro, etc.
19. Não poste fotos e vídeos direto do local onde está:
Espere chegar em casa ou no hotel para postar as fotos, principalmente se o seu perfil é aberto. Estranhos podem estar vendo sua localização em tempo real, isso é muito perigoso, principalmente fora do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário